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COVID-19: impressões sobre a pandemia de 2020 em Portugal

  • Foto do escritor: O Mundo é a minha casa
    O Mundo é a minha casa
  • 16 de mar. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de mar. de 2020



A recente e devastadora pandemia do COVID-19, também conhecido como Corona Vírus, acaba de se tornar o evento mais dramático e marcante das ultimas duas ou três décadas à nível mundial. A despeito da história da humanidade ser repleta de capítulos difíceis e controversos, as últimas gerações jamais testemunharam ou vivenciaram qualquer tragédia parecida. Peste negra, gripe espanhola e mesmo as duas grandes guerras mundiais são conhecidas graças aos livros de história, que ao longo da nossa formação culta nos deram os insights e as informações necessárias para entendermos a gravidade dos eventos. Agora é diferente, é minuto à minuto na CNN. Tempo real. Live on Instagram. En vivo.


Conforme o declarado pela Organização Mundial da Saúde - OMS, o mundo está vivendo uma pandemia de gripe, causada pelo vírus Covid-19, supostamente detectado pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Pequim nega veementemente e inspira milhares de teorias de conspiração mundo à fora. Os relatos e as informações mais parecem roteiro de filme de ficção científica ou adaptação de alguma distopia mais hardcore. Infelizmente, é muito mais verdade do que gostaríamos que fosse. Vivemos num mundo globalizado e interconectado, onde as fronteiras físicas já não constituem uma barreira para o livre trânsito de pessoas e mercadorias, o que nos deixa vulneráveis quando se trata da proliferação de uma doença contagiosa com esta. Não à toa, estamos testemunhando o vírus se espalhar rapidamente por todos os continentes, levando medo, dor e morte para os quatro cantos do globo. A China e a Itália seguem como os países mais severamente afetados.

Fonte: Uol Notícias.


O mapa acima nos permite observar a amplitude do problema e a extensão do contágio. Cidadãos de todos os continentes estão nesse exato momento tentando lidar com a doença ou buscando minimizar os riscos de uma possível transmissão. As epidemias severas experimentadas pela China e pela Itália deixaram evidente que nenhum país, por mais rico ou desenvolvido que seja, detém as condições, as instalações, os equipamentos e os recursos humanos necessários para resolver o problema de uma contaminação em massa.


Eu confesso, que sendo brasileira e estando de certa forma acostumada a enfrentar problemas de saúde pública com uma frequência maior do que o desejável, inicialmente, não acreditei na gravidade do problema, afinal de contas já tínhamos sobrevivido à zica, dengue, H1N1, malária e tantas outras epidemias, que o drama do corona vírus me parecia só mais um. Ledo engano. Talvez, se estivesse morando no Brasil agora, ainda não acreditasse 100% na chegada do vírus ou sequer de que se trata de uma doença perigosa. Mas, vivendo aqui na Europa e testemunhando o medo e o problema tão de perto, minha perspectiva é totalmente diferente.


Aqui em Portugal o vírus chegou com um delay, o paciente zero foi testado positivo há duas semanas, na cidade do Porto, onde moro. Dias antes, um bar localizado na pequena cidade de Santa Maria da Feira, brincando com a demora da chegada do vírus a Portugal, realizou a "Corona Party" em alusão ao problema. O assunto era tema de brincadeira, piada e motivo de muita descrença. Hoje, exatamente 15 dias após a chegada, o clima é de tensão e tristeza, com 351 casos confirmados no país.

Fonte: Revista NIT.


Ainda que os números sejam relativamente baixos, se comparados a outros países europeus, a vida dos lusitanos já não é a mesma. Hoje, primeira segunda-feira da quarentena, as ruas amanheceram vazias e silenciosas, uma sensação de medo e abandono generalizados. Os poucos corajosos que se arriscaram estavam majoritariamente usando luvas e máscaras na tentativa de se manterem saudáveis enquanto cumprem seus compromissos. Nem Cristiano Ronaldo, nem Jorge Jesus, o assunto do momento é o mesmo o Covid-19. A campanha intensa promovida pelos meios de comunicação alertando sobre importância de se respeitar o isolamento e evitar aglomeração parece estar surtindo efeito no Porto. O senso de civilidade encontra-se presente e a cidade deverá permanecer off nas próximas semanas. Ao que consta, o mesmo não está a passar em Lisboa. E ainda é possível ver alguns turistas desavisados passeando pela Baixa.


Inúmeros estabelecimentos já estão fechados e os serviços públicos não essenciais foram suspensos por tempo indeterminado. As escolas e as Universidades estão sem aulas e tiveram as férias da Páscoa adiantadas. Escritórios e empresas privadas enviaram seus funcionários para trabalhar remotamente desde suas casas. Os prestadores de serviços reduziram sua capacidade de funcionamento e fornecimento para 30% do total. Bares, clubes e cafés fecharam suas portas para o atendimento ao público. Os supermercados que já enfrentam problema de abastecimento, agora têm horário de funcionamento reduzido e limitação de clientes por loja. Os ônibus e metrôs funcionam no limite da necessidade e de maneira reduzida. O cenário é mesmo de guerra.


Metrô vazio em plena estação Pólo Universitário.


Prateleiras vazias no Pingo Doce de Ramalde.


Navegando entre as águas da razão e da histeria coletiva precisamos parar e refletir um pouco sobre nosso lugar no mundo, sobre como temos exercido nossa cidadania e sobre solidariedade. Considerando que somos 7,7 bilhões de pessoas na Terra, espalhadas pelos 6 continentes, cada um com sua característica, cultura e condição sócio-econômica, será que olhamos para o outro com o mesmo respeito e consideração que gostaríamos de ser vistos? Será que conseguimos ter empatia pelo próximo não tão próximo? E se a epidemia tivesse ficado apenas na China, teríamos tido o mesmo olhar e a mesma preocupação? Nossa perspectiva enviesada e eurocentrista nos coloca muitas vezes em posição de desconfiança e descrença frente ao resto do mundo - não europeu, não ocidental, não desenvolvido, não economicamente pujante - e nos remete a uma postura dura e hierarquizada em face a certos problemas. Precisamos entender que não existe país melhor do que o outro, nem ninguém melhor do que ninguém. E se tem uma lição que esta doença está deixando para humanidade é que a solução está no coletivo. O egoísmo e o individualismo tão marcante nessa era não dão conta de resolver o problema. É preciso que todos façam sua parte e que juntos superemos essa situação. Para isso, é importante que saibamos exercer nosso papel de cidadão, respeitando e cumprindo as orientações da melhor maneira possível. Não há espaço para conservadorismo irracional, aquele que rejeita vacina e vai contra a ciência e desenvolvimento tecnológico. Pelo contrário, precisamos ser progressistas, ultrapassar a dor e o medo e vislumbrar todo conhecimento que extrairemos desse evento. E mais que isso, é preciso amor para com p próximo, é dividir a dor e ser solidário. É se colocar à disposição e fazer o que é possível para caminharmos em direção a um futuro melhor e mais bonito.


Sigo em quarentena, torcendo para que tudo isso acabe logo. Evite aglomerações e use álcool gel sempre que possível para se esterilizar.


 
 
 

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